Exposição no Rio coloca o pandeiro no centro da roda da história musical brasileira

Da Redação - Ruído Urbano News
"Brasil, esquentai vossos pandeiros" — como já pedia Assis Valente no refrão que marcou gerações. Agora, o chamado se transforma em experiência visual e sonora na exposição Pandeiros do Brasil – História, tradição e inovação, que entra em cartaz a partir desta sexta (10), na Casa do Pandeiro, no Centro do Rio de Janeiro.
Com curadoria da pandeirista Clarice Magalhães e do pesquisador Eduardo Vidili — autor da tese A vida social do pandeiro no Rio de Janeiro (1900–1939) —, a exposição percorre os caminhos rítmicos desse instrumento que virou símbolo da musicalidade brasileira. Dividida entre os eixos artístico e sociológico, a mostra apresenta desde os primeiros registros do pandeiro no mundo (uma pintura rupestre de mais de cinco mil anos encontrada na Turquia) até sua presença marcante em gêneros como o samba, o choro, o coco e a capoeira.
De origem provavelmente árabe, o pandeiro cruzou continentes até ganhar protagonismo em terras brasileiras, levado pelos colonizadores portugueses. Por aqui, foi rapidamente adotado por comunidades afro-brasileiras, apesar de ter sido perseguido durante a República Velha, época em que seu som era associado à "vadiagem" e marginalizado pelas autoridades.
No entanto, resistiu e floresceu. Ganhou voz no samba dos anos 1930 e 1940, caiu nas graças do choro e virou identidade no Nordeste, principalmente com o mestre paraibano José Gomes Filho — o lendário Jackson do Pandeiro. O músico, que começou na zabumba e na bateria, se consagrou pelo domínio do pandeiro e por sua voz marcante em cocos, xaxados e forrós. Seu legado atravessa o tempo e é reverenciado na mostra, ao lado de outros grandes nomes como João da Baiana, Jorginho do Pandeiro, Bira Presidente e Marcos Suzano — este último homenageado com uma instalação especial assinada por Bete Esteves e Luciana Maia.
Apesar de ter perdido protagonismo no samba com as inovações da geração Fundo de Quintal a partir dos anos 1970, o pandeiro segue firme no som brasileiro, adaptado e reinventado por músicos que exploram suas possibilidades com criatividade e técnica.
A exposição é um convite para redescobrir esse instrumento de mil histórias e mil toques — um verdadeiro embaixador da alma musical do Brasil.