Jão (Ratos de Porão) relembra polêmica com o Fantástico nos anos 80: “Minha mãe não conseguia sair de casa”

Da Redação - Ruído Urbano News
Nos bastidores da explosão punk em São Paulo nos anos 80, não era só nas ruas que rolava treta — a televisão também deu sua contribuição pra acirrar os ânimos. Quem viveu isso na pele foi Jão, guitarrista do Ratos de Porão, que recentemente compartilhou no podcast Podpokas uma lembrança amarga: a vez em que topou dar entrevista para o Fantástico e se viu, de repente, no olho do furacão.
O contexto? A mídia da época estava com os olhos voltados para a cena punk, que crescia com força e caos. Festivais terminando em briga, rivalidades entre punks da capital e do ABC, e a imprensa, segundo Jão, só queria "ver sangue".
"Eu lembro que o Clemente [Plebe Rude] me falou na época: 'isso é uma armadilha'. Mas eu pensei, se estou aqui pra falar o que eu penso, o que pode dar errado?", contou ele no programa. O guitarrista resolveu topar a matéria e abriu as portas de casa para a equipe da Globo. O Ratos ensaiava lá, e até a mãe de Jão participou da entrevista.
Só que a edição final da reportagem, segundo ele, distorceu tudo. A TV apresentou Jão como um "punk almofadinha" só porque ele estudava no Senai. E ainda colocou declarações de outros punks detonando o estilo: "segundo consta, eles pagaram birita pra uns 'punk louco' do ABC e deram ênfase nos caras falando: 'moda punk é tênis fedendo chulé'."
A combinação do depoimento da mãe com essa montagem maliciosa teve efeitos duradouros:
"Aí logo em seguida apareceu a minha mãe dizendo: 'meu filho estuda no Senai, mas ele gosta de música e tem as ideias dele'. Porra… aí o diretor do Senai começou a me perseguir, fiquei marcado até o final do curso. Foi uma merda, um monte de punk perdeu o emprego. E a minha mãe, tadinha, não conseguia sair de casa. Não precisava ter passado por isso."
O episódio virou um marco negativo não só na vida de Jão, mas de vários jovens punks que tentavam conciliar seus ideais com o dia a dia do trabalho e do estudo. Um retrato do abismo entre as tribos urbanas e a narrativa construída pela grande mídia nos anos 80.
Pra quem quiser conferir o relato completo, a história começa aos 8 minutos do vídeo do Podpokas. Confira: