Kerry King estreia no Brasil mostrando que sua nova fase também sabe bater forte

Na primeira passagem do seu projeto solo pelo Brasil, Kerry King chegou ao palco do Bangers Festival determinado a provar que não vive apenas da sombra do Slayer. E mesmo que o começo do show tenha sido meio morno, com quatro faixas seguidas do recém-lançado From Hell I Rise (2024) deixando a galera mais observadora do que agitada, a história mudou rápido.
Foi só o vocalista Mark Osegueda — experiente e carismático — puxar o público e jogar uma lenha na fogueira que o clima esquentou de verdade. "Two Fists" veio logo depois, com aquela cara de quem quer abrir roda de mosh no tapa, e aí sim a plateia começou a responder com a energia que o momento pedia.
King deixou claro que não está tentando reviver o Slayer. Mesmo com o som que carrega muito da mesma essência — inclusive com o baterista Paul Bostaph ao lado —, a proposta é seguir um caminho próprio. A prova disso veio com uma versão nota por nota de "Killers", do Iron Maiden, um tributo aos falecidos Paul Di'Anno e Clive Burr. Enquanto King parecia se divertir com a homenagem, o baixista Kyle Sanders e o guitarrista Phil Demmel tomavam a linha de frente.
Osegueda, velho conhecido da cena com o Death Angel, assumiu o microfone como se já fosse o dono da casa. No Memorial da América Latina, foi conquistando aos poucos até os mais céticos, aqueles que estavam ali só por saudade do Slayer.
Claro que o guitarrista não ia ignorar completamente o passado. De forma esperta, encaixou os clássicos do Slayer no setlist de maneira orgânica. "Idle Hands", com seu peso e velocidade, abriu caminho para "Disciple" (God Hates Us All, 2001) entrar como se sempre estivesse no roteiro. Já "Shrapnel" preparou o terreno com sua pegada agressiva, até que os acordes de "Raining Blood" brotaram como se estivessem esperando a deixa. "Black Magic" emendada com "Reign in Blood" foi aquele momento de catarse total, e nem a área VIP escapou da quebradeira.
Osegueda segurou bem a bronca nos vocais, mantendo a própria identidade sem deturpar os clássicos. Até os agudos que Tom Araya aposentou apareceram com potência.
Pra encerrar, nada de Slayer: a escolhida foi a própria "From Hell I Rise". Talvez parte do público esperasse um último petardo do passado, mas a mensagem foi direta: Kerry King está escrevendo um novo capítulo — e, ao que tudo indica, essa nova história também vai deixar marcas.