Roy Ayers, mestre do jazz-funk e autor de 'Everybody Loves The Sunshine', morre aos 84 anos

Da Redação - Ruído Urbano News
Roy Ayers, renomado vibrafonista, compositor e um dos grandes nomes que ajudaram a moldar o jazz-funk, faleceu aos 84 anos. A morte aconteceu na última terça-feira, em Nova York, após enfrentar uma longa enfermidade. A informação foi divulgada em um comunicado oficial publicado em sua página no Facebook.
Nascido em Los Angeles, em 10 de setembro de 1940, Ayers cresceu em um lar cercado por música. Ainda criança, ele viveu uma cena digna de filme: aos cinco anos, durante uma apresentação de Lionel Hampton, ficou tão empolgado dançando que acabou ganhando do próprio Hampton seu primeiro par de baquetas.
"Na época, minha mãe e meu pai me disseram que ele transmitiu algumas vibrações espirituais para mim", relembrou Ayers ao Los Angeles Times em 2011.
Nos anos 1960, Ayers se firmou na efervescente cena hard-bop de Los Angeles, mas foi com o lançamento do álbum Ubiquity, em 1970, que ele realmente encontrou sua assinatura musical — uma fusão de jazz, funk e soul. O nome do disco acabou virando o da sua banda, e juntos eles criaram uma trilha sonora urbana vibrante, recheada de grooves dançantes, metais marcantes e vocais cheios de emoção, com espaço para muita improvisação.
Flertando com o jazz elétrico da fase de Miles Davis e mergulhando no funk ensolarado da época, Ayers e seu grupo entregaram álbuns influentes como He's Coming (1971) e Red, Black & Green (1973), além de compor a icônica trilha sonora do filme Coffy, estrelado por Pam Grier.
Mesmo com esse legado já consolidado, foi em 1976 que Ayers lançou a música que atravessaria gerações: Everybody Loves The Sunshine. A faixa-título do álbum virou um verdadeiro hino, sendo tocada por ele em shows por décadas e sampleada em mais de uma centena de músicas.
"Foi tão espontâneo. Foi maravilhoso", contou Ayers ao The Guardian em 2017, lembrando como a canção nasceu. "E eu sabia exatamente como queria que soasse: uma mistura de vibrafone, piano e um sintetizador."
Com a adição de congas, uma levada suave e aquela atmosfera nostálgica de tardes quentes de verão, a faixa se tornou matéria-prima para artistas como Dr. Dre ("My Life"), Mary J. Blige ("My Life") e The-Dream ("Outkast").
"É maravilhoso o desejo que os jovens expressam pela minha música", comentou Ayers à Dummy em 2016. "É maravilhoso porque ainda estou crescendo em popularidade."
Além de ser eternizado nos samples, Ayers se manteve conectado à nova geração, colaborando diretamente com nomes como Alicia Keys, The Roots, Guru (do Gang Starr) e Tyler, The Creator.
Ele também deixou sua marca no álbum Mama's Gun, de Erykah Badu, em 2000, contribuindo com seu vibrafone na faixa Cleva. Com sutileza e sem exageros, seu toque se encaixou perfeitamente na canção, que fala sobre beleza natural — uma combinação que Badu considerou perfeita. Não à toa, ela o chamou de "rei do neo-soul", reconhecendo a forma única com que ele misturava suavidade e precisão.
Em uma carreira que atravessou cinco décadas e o levou a colaborações com lendas como Fela Kuti e Rick James, passando por samples em clássicos do A Tribe Called Quest e Pharrell Williams, Roy Ayers nunca perdeu sua essência. O pianista Robert Glasper resumiu isso com precisão em uma entrevista de 2011: "Tem um som de Roy Ayers. Não há nada que você possa descrever. É apenas Roy Ayers."